Número de bebês menores de um ano internados com desnutrição cresce no Paraná
Rodolfo Luis Kowalski/Bem Paraná – Foto: Marcello Casal/Abr O Paraná registrou um importante aumento nas internações de bebês menores de um ano por desnutrição, sequelas da desnutrição e deficiências nutricionais. De acordo com o Observatório de Saúde na Infância (Observa Infância), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em 2022 um total de 114 paranaenses foram hospitalizados com […]
Rodolfo Luis Kowalski/Bem Paraná – Foto: Marcello Casal/Abr
O Paraná registrou um importante aumento nas internações de bebês menores de um ano por desnutrição, sequelas da desnutrição e deficiências nutricionais. De acordo com o Observatório de Saúde na Infância (Observa Infância), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em 2022 um total de 114 paranaenses foram hospitalizados com o problema, número que supera em 10,7% o indicador de 2021, quando 103 hospitalizações foram registradas.
As informações são de estudo do Observatório de Saúde na Infância (Observa Infância), realizado com dados do Sistema de Informações Hospitalares (SIH), do Ministério da Saúde, extraídos em 29 de dezembro de 2022. Iniciativa conjunta entre a Fiocruz e o Centro Arthur de Sá Earp Neto (Unifase), o Observa Infância investiga, monitora e divulga dados e informações sobre a saúde de crianças de até 5 anos no país.
Conforme a pesquisa, ao longo do ano passado o Sistema Único de Saúde (SUS) registrou, no Brasil, 2.754 internações de bebês por desnutrição, o equivalente a sete hospitalizações por dia em todo o país.
Dentre as unidades da federação (estados e Distrito Federal), a Bahia foi quem teve mais crianças menores de um ano hospitalizadas por causa do problema, com 480 registros. Em seguida aparecem Maranhão (280), São Paulo (223) e Minas Gerais (205), enquanto o Paraná (com 114) ocupa a nona colocação, atrás ainda de Pará (182), Rio Grande do Sul (159), Goiás (123) e Sergipe (121).
Coordenador do Observa Infância, Cristiano Boccolini destaca que os dados coletados do SIH ainda podem sofrer alterações, devido ao tempo necessário para finalizar os registros no sistema. Isso significa que o número de bebês internados com desnutrição no Paraná em 2022 ainda deve crescer, além de apontar que o país mantém uma tendência preocupante. “No cenário atual, embora o sistema registre uma pequena redução no número de internações de bebês menores de 1 ano por desnutrição no país de 2021 para 2022, de 2.946 para 2.754 hospitalizações, podemos considerar que a tendência se mantém.”
Série histórica
Mais de 1,2 mil bebês internados em 10 anos
Analisando-se ainda a série histórica do SIH, é possível verificar que nos últimos 10 anos, entre 2013 e 2022, um total de 1.238 paranaenses com menos de um ano de idade foram hospitalizados com desnutrição, sequelas da desnutrição e deficiências nutricionais. Nesse período, o ano com mais hospitalizações foi 2013, com 171, enquanto o menor número havia sido registrado em 2021, com 103.
Entre os municípios paranaenses, Curitiba é quem concentrou o maior número de bebês internados na última década, com 166 (sendo 15 apenas em 2022). Na sequência aparecem as cidades de Campo Largo (155), Maringá (107) e Reserva (60).
Considerando-se ainda o local de residência dos pacientes, descobre-se que, dos 399 municípios paranaenses, 239 (59,9% do total) tiveram pelo menos uma criança menor de um ano internada por desnutrição desde 2013.
Um problema de saúde pública que gera impactos no longo prazo
Quando ocorre na primeira infância, a desnutrição está associada à maior mortalidade, à recorrência de doenças infecciosas, a prejuízos no desenvolvimento psicomotor, além de menor aproveitamento escolar e menor capacidade produtiva na idade adulta. É que durante os primeiros anos de vida a evolução do cérebro acontece a uma velocidade incrível – a 1 milhão de conexões entre neurônios por segundo – e a desnutrição pode impactar diretamente no fornecimento de nutrientes necessários para esse desenvolvimento.
Devido ao alto risco de morte, as crianças com desnutrição grave devem ser adequadamente diagnosticadas e necessitam de internação hospitalar até que este risco diminua e ela possa, então, ser acompanhada em outros níveis de atenção à saúde, inclusive em domicílio. Nesse nível, é essencial que haja a ação efetiva do cuidador e o apoio deve ser dado por trabalhadores de saúde devidamente capacitados em reabilitação nutricional.
O Ministério da Saúde reforça que o aleitamento materno exclusivo até os 6 meses de idade e a alimentação complementar saudável, com continuidade da amamentação até os 2 anos, é uma das medidas de prevenção da condição de desnutrição. No entanto, a prevenção e o controle da desnutrição dependem de medidas amplas, para além de ações no campo da saúde pública, que sejam eficientes no combate à pobreza e à fome.
Problema avança num contexto de desigualdade e pobreza crescente
O problema da desnutrição avança em um contexto de desigualdade e pobreza crescentes. No ano passado, dois estudos divulgados pelo IBGE, a a “Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua: Rendimento de todas as fontes 2021” e a “Síntese de Indicadores Sociais” apontaram que os dois problemas se agravaram nos últimos anos no Paraná.
Em 2021, por exemplo, o rendimento médio mensal domiciliar por pessoa caiu 5,5% no estado, alcançando o valor de R$ 1.529 – o menor da série histórica, iniciada em 2012. Considerando ainda a massa total do rendimento domiciliar per capita (RDPC) dos paranaenses, temos um cenário no qual os 10% da população com maiores rendimento concentram 36,6% da massa da RDP. Para se ter noção do que isso representa, metade da população com menor rendimento domiciliar per capita no estado fica com 19,3% da massa total dos rendimentos.
No mesmo ano, cerca de 2 milhões de pessoas (ou 17,3% da população do Paraná) estavam na pobreza, sendo que 429 mil (ou 3,7% da população) estavam na extrema pobreza. É o maior número de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza no Paraná desde o início da série, em 2012. O Banco Mundial adota como linha de pobreza os rendimentos per capita US$ 5,50 PPC, equivalentes a R$ 486 mensais per capita. Já a linha de extrema pobreza é de US$ 1,90 PPC, ou R$ 168 mensais per capita.